terça-feira, 25 de dezembro de 2007

La maison

Hoje acordei 10 anos mais velho
vi minha filhinha mamando no peito
meu menino brincando de bola
minha mulher fazendo o jantar
Fui dormir 20 anos mais velho
E veio meu filho me pedir o carro
minha filha avisando que ia sair
minha esposa arrumando a cama
Tive um sonho 30 anos mais velho
saía do casamento de meu primogenito
no carro junto com o noivo de minha menina
minha senhora resmungando saudades
Despertei assustado 40 anos mais velho
meus netos na cama
meus dois filhos divorciados
e minha velha fazendo tricot
Me olhei no espelho 50 anos mais velho
meu filho doente
minha filha amargurada
minha companheira tomando remédios
60 anos mais velho já olhava de fora
minha filha partira há pouco
meu filho aposentava-se da vida
minha viúva chorava olhando a vida passar
Se for mesmo assim tudo bem
enquanto desço a rua onde sempre morei
o tempo é se,é foi,é irei...

domingo, 25 de novembro de 2007

A insegura

Eu tenho medo de que você se arrependa.A frase saiu torta,um tom de voz quase ensurdecedor de tão baixo.Que me arrepender,o cacete!Era o que eu queria dizer.Mas se sou eu que tô pedindo um beijo seu,foi a frase mais sutil que meu cérebro pode processar em meio ao estado atônito que aquela conversa me impunha.Olha,a gente se dá tão bem,você é tão legal e nós passamos tanto tempo juntos,que eu achei que ,sei lá,ia ser bom se isso acontecesse com a gente.Mas eu tenho medo de que segunda você nem olhe pra minha cara.Porra,cala a boca logo que já é tarde!Mais uma vez me contive,apesar do whiskey insistir em dizer o contrário.A praça já vazia.O vendedor de cachorro-quente,dois mendigos bêbados com suas sábias crônicas do dia-a-dia,a puta desapontada voltando pra casa.Os taxistas com a garrafa de café que espanta o sono e adocica o cigarro...e nós dois ali,como se nada daquilo fosse real ou pudesse nós atingir.Antes já haviamos andado a cidade toda,como sempre faziamos.Das últimas vezes ela me roubava o pensamento constantemente e mal conseguia ouvir o que ela dizia.Só pensava em finalmente contar sobre meus planos e sentimentos quase infantis.Mas acabava deixando pra próxima.Ela não queria menos e eu sabia disso.Depois ia pra casa me achando o mais covarde dos homens.Ela era,dentro da sua sinceridade e audácia,quase submissa.Concordava com tudo,aceitava tudo,tudo era ótimo.O lugar que eu queria,a bebida que eu escolhia,a hora que eu marcava.E agora me vinha com essa.Às vezes eu à achava linda,os longos cabelos loiros,os lábios grossos,os olhos verdes,ou seriam azuis?,grandes,profundos.Era perfeita.Noutras,tencionava matá-la.Chata,pessimista,repetia tudo,todo dia.Era irritante.Tinha o talento de me fazer amar e odiar no espaço de poucos segundos.No balanço final,era incrível,única.Tudo isso me passava pela cabeça ali naquela praça,duas e meia da manhã.Poxa,se é só por isso você pode ficar tranquila,eu tenho certeza de que eu não vou ma arrepender.O beijo foi rápido,urgente,quase desesperado,como se soubessemos que por melhor que fosse ainda seria pouco.Parecia que esperavámos aquilo há anos,a vida toda e mais ainda.Mais dois beijos apressados.Atravessamos a rua,a deixei na portaria do prédio.Um último beijo,esse ainda mais rápido.Brigaram?,perguntou o porteiro,já conhecido meu.Não,é que sabe,a gente é muito amigo e aí...É,aí é foda mesmo,resumiu,tão vulgar quanto verdadeiro,o vigia.Eu atravessei a rua e entrei no táxi.E não me arrependi nem um pouco.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Rubor/Tempo e espaço

Rubor

As palavras átonas tornaram-se as mais tônicas
o céu das madrugadas pintou-se de vermelho
o domingo não tem mais graça
a graça de tudo se foi
Melhor viver com o ódio do que com a indiferença
Com a dor do que com a ausência
Melhor sentir raiva do que saudade
Mais fácil morrer do que amar
Subir até o auge da impaciência
e saltar no abismo da fé
Acreditar que os planos não morrem,
são adiados à vontade de Deus
Um Deus piadista que gosta de exemplos
Esse outro alguém tem me consumido
em cada brisa à beira-mar
Beira amar cada movimento
Como um cego e seu cão guia
Que não vê o mundo
mas sabe que há muito mais do que só ouvir
Como a viúva que espera a morte ansiosa
Como o sábio que a espera na sua falsa paciência



Tempo e espaço

Hoje em minha vida
tenho plena convicção
de que tudo antes e depois
de conhecê-la,tê-la e amá-la,
não teve,tem ou terá menor importância,
sendo apenas mero equívoco
de tempo e espaço.

domingo, 4 de novembro de 2007

trêsporquatro

A máquina fotográfica matou a alegria de esquecer.
Tá tudo lá registrado,seus movimentos e suas hesitações.
Apaga esse vestido colorido de amarelo da tua fotografia.
Volta atrás e pergunta de novo se eu tenho certeza,
que você vai ver que é a certeza que tem a gente.
Deixa repousar o cigarro aceso no cinzeiro da tua alma.
Não me venha com essa de acaso que nisso eu não acredito.
O acaso nada mais é do que o destino disfarçado,
e de disfarce já basta a felicidade.
Eu sou um bom canalha e você sabe que isso lhe convém.
O mau canalha é aquele que usa gravata e compra casa à prestação.
Mas o bom canalha vai pro bar e
faz juras de amor eterno pra dois corações no mesmo dia.
E nunca minto,porque o amor é a minha verdade.
O meu amor não tem medida nem pudor.
Mas não sempre tão agradável aos olhos e ao estomago.
Eu penso que um dia se houver de morrer de susto ou de amor,
prefiro morrer de susto,porque morrer de amor deve incomodar pra cacete.
Você agora só daria um sorriso e me chamaria de bobo.
Eu ainda sou capaz de radiografar teu coração e seus impulsos mesmo à distância.
Ensaiando a cena final,o grand finale no terceiro ato.
Quando eu era criança vivia ensaiando as minhas últimas palavras.
No dia da minha morte espero ter tempo suficiente pra conferir se decorei o texto.

sábado, 20 de outubro de 2007

Prontuário

Não consigo pensar em melhor final do que morrer de amor em uma quinta feira debaixo de chuva no meio do nada.
E nem em melhor início do que em uma fila de supermercado em uma sexta feira de verão.
Nem deve ter reconciliação melhor do que briga intensa seguida por beijo intensíssimo!
Ou surpresa melhor do que flores ao fim de tarde.
Ter um filho ou escrever um livro,até uma árvore podia ser plantada nos fundos do jardim.Uma árvore que dê jambo,se possível.
Algo como a ausência de falta de movimento.
Causa mortis: hiper aceleração de pulsações cardio-amorosas seguidas por fortes espasmos de melancolia intra-estomacais.
Um descuido...é isso o que é o amor.
O amor é um descuido,um aperto no estômago,uma gastrite crônica.
Que nenhum engov cura,nem antes nem depois.
Sim,o amor é uma enfermidade,coisa terrível.
Terrível como morrer de amor em uma quinta feira debaixo de chuva no meio do nada.
O amor é uma gastrite crônica.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

As fases

A desilusão

Se o mundo fosse carnaval
hoje seria quarta-feira
o amor teria sido uma grande brincadeira
colombina desfilando de fantasia rasgada
pierrot lamentando o ocorrido
arlequim rindo-se todo pelos cantos
do mal-amado e seu pranto
da melancolia do soldado abandonado
o dia em que o homem forte
sentiu o beijo frio da morte
no peito desavisado
a saudade é feito um corte
de se saber metade
depois de ter sido inteiro


A esperança

Ora,não se entregue sem ter lutado
não há razão pra jogar a toalha
a guerra nunca acaba na primeira batalha
o paraíso pertence aos que acreditaram
quem foi que disse que o amor é certo?
não tire conclusões precipitadas
não faça da incerteza sua estrada
que o destino há de fazer o seu papel correto
encare os olhos que até te assustam
mesmo que valha perder seu juízo
faça tudo que julgar preciso
diga a ela o que tanto te encanta


O amor

-Não é flor do campo
nem chuva de verão
não é rima de canção
nem tão pouco nem tanto
parece medo da morte
mas dá mais vontade de viver
é parecido com perder
só que não há maior sorte
se fosse objeto,seria colorido
tivesse cheiro,seria de canela
fosse iluminado,seria por vela
se tivesse um lugar,seria escondido
é tudo isso e mesmo assim não é nada
não tem nada e nem nada cobra
um olhar pequeno já lhe sobra
nada poderia lhe trazer mais calma
nada lhe completaria mais a alma
nem descreveria de maneira própria

-Eu aceito.

-Deus criou a mulher como um presente pro homem,
pra que ele tivesse o prazer de morrer de amor
ao invéz da amargura de viver sozinho.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Textos antigos

alguns textos meus antigos que achei por acaso:

*O mundo e eu

Eu acho que as vezes o sol
só se permite brilhar,
só depois que você levantar
e então apagar-se o farol.
Eu queria ver a reação das outras na praia
ao te ver exibir toda tua vida.
E eu,apenas um pobre mortal
não posso passar impune a tal perfeição.
E quando a noite esconde o sol,
a lua se confronta com teu olhar.
O mundo e eu continuamos a pensar
como és tão linda e tão normal


*História de um soneto

Fiz das nuvens um soneto
que a incerteza inspirou
pus nos versos certa irônia
que é inerente a tal amor

A métrica ficou de lado
mas com certo esforço se entendia
o febril significado
das palavras que se lia

O tempo é ladrão dos desejos
e todo poeta é um ladrão
se apossa da luz das estrelas
e as transforma em sua inspiração

As nuvens do início se foram
a rima mudou de cor
não falava mais de incerteza
era agora um soneto de amor

(vencedor de 2 premios no festival literário
da minha escola há uns 3 ou 4 anos atrás...
*só pra não dizer que nunca ganhei nada)

*Poema à mulher mais desejada

É um absurdo
que eu nunca tenha te falado
sobre os diamantes nos teus olhos
e sobre o colorido dos teus cabelos
que me distraem tal qual o mar
É realmente de se admirar
que eu não tenha te contado
sobre como as estrelas brilham
com um brilho muito mais intenso
quando combinadas com o sorriso
mais bem desenhado por Deus
e como não acreditar nele
depois de se olhar pra você?
O universo por si só
não seria tão romântico,
o mais belo pôr-do-sol
não seria tão sublime
quanto os teus medos e indecisões
e nem o canto de todos os anjos
seria capaz de acalmar a alma
como tua voz consegue,
eu mero adivinhador,suponho...
perdoa,entenda não ter falado
todos os clichês do mundo pra você
mas é que palavras não fariam justiça
Para certas coisas,
não existem definições
elas existem e pronto!
Mas é um crime,eu insisto,
ter deixado de te dizer
o quanto eu devo a você
por me sentir homem
como nunca antes poderia.

(com algumas modificações,porque tava piegas demais,
não adiantou muita coisa,mas amenizou)

terça-feira, 21 de agosto de 2007

São 3 da manhã,e você está sozinha,sentada em um lugar qualquer.E sabe que nunca mais vai ser a mesma coisa,depois dessa noite.
Você pode viver mais duzentos anos,pode conhecer cada metro quadrado de mundo,não adiantaria.Ainda estaria vivo na sua memória cada segundo da melhor noite da sua vida até então.Os outros achariam que foi só uma noite agradável,um encontro bem-sucedido.Suas amigas diriam que é exagero.Mas nada furta o segundo que vocês se entre-olharam(*isso se escreve assim mesmo?),a música perfeita casualmente tocando ao fundo,como se escolhida cuidadosamente por alguém,as conversas alheias em volume baixo o suficiente para não se poder distraír,o vento batendo de leve e trazendo as primeiras gotas de uma chuva providencial...Você não planejaria melhor se pudesse.
A proximidade dos rostos,o perfume suave-anestesiando a tensão do inesperado.O som da respiração se misturando à sensação de ser possível ouvir-se seu coração palpitando.Ele nunca foi tão inquieto assim.
O toque das mãos,de leve,propositalmente encontrando-se,mantendo,porém,uma certa interpretação de acaso...você sentia suas pernas bambearem incontrolavelmente,e rezava para que ele não estivesse percebendo,pois isso seria se entregar demais.Como se isso fosse possível!
Seu nariz se encontra com outro,e você pensa que nunca achou que isso pudesse ser tão especial-'é um simples encontro de narizes,ora!'Vocês não poderiam estar mais proximos,não haveriam de ser mais tão pertencentes um ao outro quanto naquele segundo.Pra você,o mundo parou naquele segundo,não havia mais presente,passado,futuro,amigos,compromissos,relógios,medos,nada!Nada podia atingi-los ali,naquele breve segundo efêmero,como não gostaria que fosse.
Parecia que despertava de um sonho longo,mas não,era real,alguém gritava seu nome mesmo.O momento,alguns diriam,se quebrou.Não...jamais se quebrará!Pra você, aquele sempre será o segundo da sua vida.



"...i've seen your flag on a marble arch,
and love is not a victory march,
it's a cold and it's a broken hallelujah..."

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Flor

Ele quer ser o que vai fazê-la dar uma resposta diferente quando perguntarem se ainda está solteira.
Ele quer ser o cara sentado à mesa do almoço de domingo na casa dos pais dela,o idiota que não sabe dançar direito ao lado da mulher mais linda do lugar.
Ele quer ser o bobo comprando flores,correndo atrasado na chuva em pleno dia dos namorados,quando todo mundo já sabe o que vai dar com semanas de antecedência.
Quer ser o cara pra curar o porre dela,perdoar as brigas e irritações daqueles dias-e Deus sabe como é difícil!
Ele quer olhar a tempestade com ela,sorrir do passado,ficar em casa no domingo,"deixar o verão pra mais tarde"...
Ele só quer que ela seja sua Yoko Ono,embora viva dizendo por aí que ela acabou com o John.
Ele quer estar lá,quando ela acender...



"Era um relacionamento saudável,desses que a gente nunca dá valor,pois falta sal..."

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Clara

Eu te vi a primeira vez, você era só uma menininha.
Você ainda é.
Cresceu,aprendeu a mentir.
Descobriu que a vida é fazer de conta que é sério.
Fingiu.
Aprendeu a ser mulher.
Ainda sim,é uma menininha.

domingo, 5 de agosto de 2007

Adeus Maria

Adeus Maria.Eu preciso partir.Reúna todos os meus poucos amigos,mesmo os que já não o eram com tanta intensidade.Junte-os em torno da mesa,e sorriam.E bebam à memória desse desertor que agora se vai.Derramem o pranto mais justo que é o de uma despedida.Talvez um dia,em muitos anos,um de vocês esteja passando por uma rua,pensando nos caminhos nem sempre óbvios que a vida tomou,e então venha aos seus olhos a minha imagem acenando de longe.Quase desaparecido pelo tempo que consome as lembranças do que se foi há tantos verões.Quando alguém oportunamente mencionar-me em certa conversa,diga que a saudade permanece,Maria.Porque em mim ela não morrerá jamais.Saudade de olhar pro seu sorriso,de te ver chegar,de te ver sair...De deitar na tua cama e colocar a minha cabeça pesada no seu colo.E de chorar as vezes e nem conseguir te responder o porquê.Saudade de brigar contigo só pra fazer as pazes na mesma hora.Uma vontade de voltar no tempo e te ouvir contar as tuas histórias,os teus medos.Porque isso é a vida:medo e saudade.Vou sentir falta de sonhar acordado ao teu lado,de te ver dormir.E dessas coisas que os 'fortes' e 'sensatos' chamariam de fraquezas,quando na verdade são as mais belas virtudes que alguém pode possuir.Acho que vou sentir falta até de não sentir tua falta Maria.Eu não sei...será que você nunca vai me esquecer mesmo? Ou eu vou ser só uma boa vaga lembrança?Um retrato no fundo da gaveta,embaixo dos cadernos.É, Maria,por mais que todo mundo viva dizendo que o mundo já foi melhor,e a vida,mais fácil,eu agora me vejo obrigado a concordar com eles.É bom de vez em quando,pra variar,essa coisa de concordar com todo mundo.Ver que a gente não tem que ser especial o tempo inteiro.E poder ser só mais um no meio das pessoas felizes.Você devia tentar.Quando você estiver triste e achar que não tem mais ninguém nessa vida,você tem sim...você sempre tem.Eu preciso partir.Adeus,Maria,adeus.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Telefonema pra Mel

Se eu fosse rico te comprava o mundo inteiro,
por mais piegas que essa frase seja.
Melzinha,promete que deixa teu cabelo crescer outra vez?
Eu gostava mais daquele jeito.
Você me parecia mais fatal,
agora tá muito moderninha,
não combina tanto com o seu rosto.
Olha,você tá se saindo bem demais!
Mas isso não me surpreende,
eu sempre acreditei que você podia,
apesar dos comentários dos outros.
Eles nao sabem de nada, Mel.
De nós,nós é que sabemos,meu bem.
Promete que vem com aquele vestido verde?
Sempre me lembro dele nos domingos de sol,
ainda mais quando chove depois.
Lembra, Melzinha?
A casa pegando fogo,aquilo foi demais!
Você foi demais!
Saudade, Mel,saudade...
Puxa,eu preciso ir!
Já viu que horas são?
E também tenho poucos créditos.
Sabe como eles são,não é?
Acabam de repente.
Eu te ligo semana que vem,Melzinha.
Melzinha?Mel??
Maldito telefone!

terça-feira, 31 de julho de 2007

Soneto ao sono de Nina

Soneto ao sono de Nina

Se te vejo como à uma flor ou como nuvem,nao sei.
Sinto-te porém,presente no passado,distante no presente.
Antecipação da angústia de um certo desapego renitente.
À saber, a aurora de um dia porvir em que descrente partirei.

Acho que estás fingindo uma fortaleza.
Na torre por detrás de um sol desenhado.
Pintado à luz envolta em livros e papel rabiscado.
Um observatório imaculado de terna pureza.

Você se expunha e recostava a porta,
esmaecia e voltava a gargalhar.
Era de uma vez, lúbrica e menina.

Descia da lua e dançava a polca,
reclusa a uma cela ou livre sobre o mar.
Mas sonhando feito anjo,queria ser como sua gata,Nina.



*a primeira de uma série de 11 textos com nomes femininos que eu sinceramente espero ter disciplina o suficiente pra concluir.

sábado, 28 de julho de 2007

Dom Quixote

‘Você aceita ser a minha futura ex-namorada?’não pareceu ser a pergunta que ela esperava,
Eu pude ver isso nos olhos dela,um misto de espanto,desprezo e decepçao.Ora,eu não podia ser sincero?
É esse o preço que se paga por não iludir os outros? O que mais eu podia dizer? ‘Eu te amo,não consigo viver sem você,vamos passar o resto da eternidade juntos...’ Não,isso eu não podia dizer. Nao de novo,pra outra mulher com quem, eu sabia, iria passar uns meses divertidos e acabaria por terminar tudo.Fosse por alguma frase estúpida dela,por cansaço da iminente rotina que se seguiria ou simplesmente pelo meu desejo,que eu por vezes julgo egoísta,de liberdade,eu tinha a terrível certeza de que não,eu não passaria o resto da eternidade junto a ela. E no fundo,ela também provavelmente sabia disso.Entao por que essa necessidade quase primitiva de ouvir mentiras rasas e promessas que fatalmente não iríamos cumprir?
Seria tão mais simples se aceitássemos o fato,pessimista,porém um fato,de que nada dura pra sempre.
Se todos nos conformássemos com o ‘eterno enquanto dure’,não haveria injurias em términos de relações.
E qual o grande mal em se terminar relações? É lógico,não são dias dos mais ternos,mas não deveriamos tampouco fazer disso uma hecatombe sentimental,um holocausto amoroso,uma febre-amarela no coração. Imaginem vocês se comemorássemos todos, o fim,como uma nova era,um inicio,um conhecer a espreita.Um ciclo que não se esgota,trazendo consigo uma leva de novos velhos-amores e corações partidos.Mesmo com a certeza de um afogamento por vir dentre tantas águas...Nao um,mas vários e vários afogamentos e tempestades em copos d’agua.Celebremos todos,pois, separações e rompimentos.
Idas e vindas.Terminos e voltas.Que graça teria a vida se não fossem os encontros e desencontros?
Os inícios e finais...Celebremos sim,os finais!As mulheres com potes de sorvete,lagrimas,’Lendas da paixao’e colos de amigas.Os homens com cervejas,humor negro,filmes adultos e shows de strippers.(e quando finalmente sozinhos em casa...aí sim,lágrimas).Comemoremos as possibilidades que novas eras nos trazem.Seria tão mais simples se ao invés do tapa na cara que se seguiu a pergunta do inicio,ela tivesse apenas rido e lembrado que ‘depois do começo,o que vier vai começar a ser o fim’...



*antes que alguem pergunte...não,não é baseado em fatos reais
e não ,eu não pretendo perguntar isso um dia.
ah,e tá sem correçao pq eu não tive saco pra isso.ponto.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Choveu(ou O arquiteto do Taj Mahal)

Choveu! Enfim!!


Eu vou roubar você.
Te levar pelas pracinhas e igrejas das cidades mais menos empolgantes que eu consigo me lembrar agora.Um pedaço de paraíso no meio da avenida mais infernal que eu puder me esquecer depois.
Vou te comprar suspiros,e sorvetes,e sonhos.E eu não estou falando dos de padaria.Vou te envolver,te perder a cabeça.
E depois vou te deixar em casa.

sábado, 21 de julho de 2007

Allegro

Nada respira como antes.Vejo a janela se acender,o fogo arde,mas nem dá tempo.Eu vi o sonho esmoecer,eu vi um sonho.Eu vi a luz no fim do tunel,uma bala vindo na minha direçao.É só o fim,nada demais.Ninguém é tão bom que nao possa morrer vez ou outra.Ninguém é tão ruim que mereça viver eternamente.Ah, deixa essa fúria toda escoar,deixa a chuva levar.Deixa a chuva.Eu vi o futuro por cima de um muro de hipocrisia,o futuro morreu.Não a hipocrisia.Eu liguei a t.v.Tava lá em cores,a esperança foi internada.Ninguém visitou.Fecharam a enfermaria,liberaram os médicos,demitiram as enfermeiras.Nada respira como antes.O fogo arde.Foda-se.Ninguém é tão bom que nao possa se foder numa noite qualquer.Ninguém.Eu vi o passado,amor.Ele tá aqui agora,tá bem aqui.Olha lá.Abre a porta,deixa o passado entrar.Não queremos que ele pule a janela,que entre pelos fundos.Vejo a janela se acender,o fogo arde,mas nem dá tempo.É só o fim,nada demais.Nada mais.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Luz e alegoria

Eu quero um amor de carnaval.Um amor de domingo a tarde,de pao-doce no café da manha,de xícaras de chá de maçã.Uma coisa assim meio Blockbuster,meio chuva de verão.Um amor bossa-nova,um barquinho a deslizar...Reprise dos Trapalhões,filé com fritas,telefone tocando em um sábado à anoitecer.Vamos?Claro!Vamos!Um amor paixão,matinê e pipoca,uma árvore,a maior árvore!Do mundo!Sentar em baixo da copa e dormir,de repente.E acordar sorrindo,e dormir chorando pra no dia seguinte sorrir outra vez.Rio,Paquetá e montanha.Mar.Um amor mingau de Maizena em prato fundo,mas todo mingau é mesmo tomado em prato fundo,anyway.Um amor que acabe,pra poder ter do que lembrar.Até serve um que acabe bem lá pro final,quando outro já não houver.Ou um que dure pouco,mas ai...Um amor em demasia que denude a alma,essa feita de luz e alegoria.Um amor de carnaval,sim,me basta que seja até quarta-feira,e que quarta-feira nunca chegue.Assim,de canto.Assim.Mas depois,que agora faria-se apressado,e disso eu não gosto não.

sábado, 28 de abril de 2007

Deus é brasileiro

*Bom,apesar da demora em criar um blog,venci a minha quase heróica, e por que não desnecessária?, resistência e aqui estou eu para escrever casualmente como o (sincero) nome já diz,qualquer bobagem.Entao,começando os trabalhos...

Se Deus é realmente brasileiro como bradam católicos efusivos e afins,é provável que esteja exilado já há algum tempo(mais ou menos uns quinhentos e poucos anos).É inegável que criou o país com carinho raro,foi cuidadoso e gentil com a pátria mãe,desenhou-a com beleza única.Mas me parece que Ele nao é lá dos mais patriotas não...
É claro que o ditado popular,como o próprio nome diz é do imaginário do povo,do folclore.Especialmente o brasileiro,que gosta sempre de comfrontar as adversidades de modo esperançoso,ingênuo até.Mas pensando bem,se Deus nao for brasileiro,deve pelo menos gostar de visitar o país de vez em quando.Por exemplo,quando não está muito ocupado com alguma guerra étnica ou coisa que o valha,ele gosta de vir assistir a um joguinho no Maracanã.Ele provavelmente preferia ficar na geral antes da modernização retrógrada do estádio,mas ainda sim vem.Gosta tanto da seleção que já foi a cinco Copas do Mundo!
Quando ele vem passar férias no Brasil,gosta de se hospedar no Rio,ali por Copacabana,ou Ipanema.Não gosta muito da zona norte,é verdade,mas até pega uma praia aos domingos vez por outra.Já visitou a Amazônia,o litoral-mas só o litoral- do Nordeste, passou um tempo em Minas.Nunca esteve em Brasília.Nao gosta muito de política.
É fã de música brasileira.Sabe tudo de samba,tem todos os discos de Tom e nao perde um show do Paulinho da Viola.Passa todos os carnavais aqui também.Dizem que torce pela Mangueira.Adora um partido alto e uma roda de choro.Sempre com uma boa feijoada e uma caipirinha do lado.Tipicamente brasileiro.
Talvez Deus seja realmente brasileiro.Um brasileiro que vive no exterior,como tantos outros.E já que o texto surgiu de um ditado,convém terminá-lo com outro:"Santo de casa nao faz milagre".

Por hora ,é só.
Em breve, mais algumas verborrágicas e prolixas histórias de amor e cronicas de mesa de bar.

"Não se fazem mais antigamentes como futuramente."