terça-feira, 29 de julho de 2008

Eventualmente,sim

Deixo o sol levar os anseios e expectativas
Deixo o verão passar ao lado com a força de mil cavalos no peito
O sermão que eu ouvia por morrer sempre as sextas e renascer aos domingos
Os santos que eu vi pecar quando não existe pecado me dizem adeus
Os olhos da maldade estão fechados,o sinal também
Falta um ar de lucidez na janela do quarto da alma exposta
Falta um cinzeiro na mesa do centro da sala
Tanta gente hoje descansa à beira da estrada por onde eu passo que
É especialmente gritante a linha que corta o desespero e a redenção
E eventualmente eu vou voltar a errar por querer e mentir de propósito
O vento é amigo do relógio,andam de maõs dadas entre ruas e carros
Me disseram que você andou dizendo coisas que você não diria
Fazendo coisas que não faria,abrindo a porta a estranhos que vão te possuir
A nossa juventude já lá se vai,dia após dia,segundo a segundo
Mas depois de muito tempo nós entenderemos o que as paredes do meu quarto diziam

Interlúdio

...

terça-feira, 15 de julho de 2008

O relógio do mundo

Nesse instante há um nascimento,e um aniversário e um funeral. Há também um casamento.É certo que há um amor surgindo enquanto outro se despedaça.E há um velho saudoso,e um adolescente revoltado,e uma jovem ansiosa por ser amada à primeira vez.Nesse instante há uma catedral em visitação e um culto em andamento.Há um suicídio planejado e um grande acontecimento.Há uma criança que chora atenção,um negro explorado,um judeu em negociação e um cristão culpado.Nesse momento há alegria na sala de jantar e tristeza no quarto dos hóspedes.Há um novo cão chegando ao mundo e um pássaro aprisionado.Há saudade nos apaixonados,há desespero nos desempregados,chove em algum canto e faz sol noutro qualquer.Nesse minuto há um homem que espreita o assaltado e há a dor de uma mulher.Há inquietação nos corredores e boatos pelas calçadas,há um pênalti perdido,uma linha de chegada ultrapassada.Há um acidente recém-noticiado,um falecimento anunciado.Nesse instante há uma canção sendo tocada e fazem amor no quarto de uma empregada.Há um viciado esperando o alívio,há um dilúvio numa ílha exótica,há um mágico fazendo ilusão de ótica em algum circo individado.Tem sido assim por muito tempo e assim há de continuar a ser.Até que Deus atravesse o quarto e desligue a luz e vá adormecer,há de ter sempre um casamento,um nascimento e um funeral.Há de ter cura pro tempo que passa e há de ter um bem para todo o mal.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Todo mundo sabe

A noite começou,as pessoas fingiram ser alguém,você se lembrou de mim
Assustada por ser capaz de ser mais forte do que costumava ser
O vento te toca os seios parcialmente soltos pelo seu vestido de verão
Todo mundo sabe que a lua é a mesma em qualquer lugar do mundo

Os ruídos da rua de trás,um grito desconhecido,um brinde na mesa ao lado
A aparente alegria por estar viva se confunde com seu belo sentimento de culpa
Pelo passado já enterrado,pela terra no sapato,pelo tiro pela culatra
Todo mundo sabe que a lua é a mesma em qualquer lugar do mundo

O fim do seu papel de moça,a roupa amarrotada,o beijo da mudança
Você esqueceu a porta aberta e era possível ver tudo de cima da árvore
Mas você estava lá no outro dia cedo,no parque da cidade
Todo mundo sabe que a lua é a mesma em qualquer lugar do mundo

quarta-feira, 9 de julho de 2008

O que ela pensou em fazer

Mil anjos acompanhem a menina quando ela passa pela portugal com um copo na mao
E mil anjos a guiem quando ela não estiver certa de onde está
e a ajudem quando ela não souber quem eu sou e estiver insegura
Que eles a peguem pela mão e a levem pra casa quando ela estiver alta demais pra conseguir sozinha
E que mil anjos a façam ouvir sua música preferida quando ela estiver triste
e toquem o seu telefone quando ela achar que não tem ninguém
E que eles a façam dizer 'não' na hora certa e que também a façam dizer 'sim'
E que todos os dias ela possa se sentir feliz,ainda que por uns minutos
Mil anjos coloquem na frente dela algo que a faça se lembrar bem de mim
Ou que coloquem outra coisa se isso não for possível
E que eles a façam brilhar mais do que as outras que tentam apagá-la
E que mil anjos a façam se sentir mais bonita e mais querida quando ela estiver na frente do espelho
E que a façam chorar de emoção pelo menos uma vez no mês
E que a protejam de todos os que a querem só por querer
E que mil anjos provem que ela estava certa quando alguma injustiça aparecer
E que eles a façam sorrir quando ela abrir a janela de manhã
E a deixem ter o sonho mais lindo quando ela for dormir triste
E que mil anjos mostrem a ela que tudo na vida passa
E que eles se lembrem de dizer a ela que o amor existe quando ela se esquecer

terça-feira, 1 de julho de 2008

A bailarina e o poeta

A bailarina é a poesia na vida do poeta
É a expressão visual do que ele sente
Em toda a sua elegância discreta
É a inspiração de um movimento
No silencio de uma valsa sincopada
É a nota mais aguda de uma harmonia
A bailarina é um sentimento hipnótico
À girar no peito do poeta urgente
De passos marcados e compassos
Sua melancolia quase imaculada
É ilimitável é a ternura do seu deslizar
A bailarina é o mirante do poeta colérico
É seu antídoto e único calmante
Ela é promessa e tarde chuvosa
É displiscência e dedicação
A bailarina é a vida na poesia do mundo